O valor de uma vida passada

20:08

( Imagem: Weheartit.com)


Olhei para a janela do meu quarto, já está de manhã. Não estou com uma sensação boa hoje, parece que não sou mais a mesma pessoa. Meu corpo está leve e minha mente completamente confusa. Levanto dali e pego meu celular pra ver as mensagens dos meus amigos que são de duas semanas atrás, visualizo e nem respondo. Só mais tarde que irei responder, tenho outras coisas pra fazer. Vou direto pra cozinha guiada pelo cheirinho de café.

Minha família está reunida em volta da mesa tomando café da manhã. Tem torradas, pão, cereais, leite com Nescau, café e suco de laranja. Passo por ali, mas ninguém nota a minha presença. Acho que estão ocupados comendo e conversando entre eles. Não estou com fome. Abro a porta da sala silenciosamente e fecho logo em seguida. Na garagem há uma bicicleta velha encostada no chão. Penso várias vezes em dar uma volta em cima daquela bicicleta, acho melhor ir de a pé.

As ruas nunca esteve tão movimentadas. A segunda coisa que consigo notar a um metro de distancia, é uma garota segurando um balão roxo, seu sorriso estava transparecendo no rosto. A mãe da garotinha que estava ali presenciando aquela cena, parece estar com pressa de chegar em algum lugar, então nem da muita atenção para a filha. Do nada o balão voa pra cima, num movimento brusco tento alcançar, mas é tarde demais. Uma lágrima cai do rosto daquela garotinha, a mãe atravessa a rua com pressa prometendo que iria comprar outro depois.

Decido seguir outra direção. Desta vez vou para uma praça que fica ali perto de casa, costumo ir lá para pensar um pouco mais sobre o que quero para minha vida. Sento - me ali naquele banco vázio, que além de mim tem algumas crianças brincando na areia e um casal de namorados passeando por ali. Tento concentrar nos meus pensamentos, quando de repente ouço aquele casal discutindo. Eles deveriam parar de brigar e procurar encaixar o amor que tem pelo outro, porque o amor é mais forte do que os obstáculos.

Pensamentos invadem o meu psicológico. Penso o motivo de " Eu" estar sozinha. Dos amores fracassados que tive, dos amores que não foram correspondidos e das oportunidades que já se foram. Confesso que meu medo ganhou toda essa batalha, talvez esta seja a razão da minha completa solidão.

Saio dali melancolicamente. Ando mais uma vez sem saber para onde vou , apenas sigo em linha reta. Passo em frente a um colégio bem antigo, as paredes estão manchadas, o portão descascando e as paredes todas pichadas. Decido parar ali na frente pra olhar um pouco mais de perto, só por curiosidade. Ouço vozes ali atrás do muro, dou uma leve espiada. Cinco garotos contra um. Ofensas são ditas e a violência é exposta de uma maneira originalizada. Grito para tentar separar, felizmente chega a professora e corta minha vez. Ela da uma terrível bronca e todos os alunos entram pra dentro do colégio silenciosamente.

Sigo minha direção novamente horrorizada com o que tinha acabado de ver. Nem sei que horas são, preciso ir a um compromisso as 11h00. Resolvo perguntar pra alguém na rua, esqueci meu celular em casa e meu relógio de pulso parou de funcionar. Digo " Você me pode dizer que horas são, por favor?" a pessoa me ignora e atravessa a rua sem a minima importância de me responder. Então pergunto para vinte pessoas que passam por ali, mas todos me ignoram, só pode haver um motivo.

Ah não ser que .... será que estou?? Não pode ser.

Entro em uma padaria e leio o jornal. Acidente de carro na rodovia 201, por voltas das 23:25. A vitima era " Eu".

Estou morta! O que restou de mim, foi a minha alma. Acordei no meu quarto como rotina de sempre. Por isso que me sinto estranha, o meu corpo, ou melhor minha alma está leve e tudo está confuso em mim. As pessoas não conseguem me ver mais, nem estranhos, nem minha família, nem mesmo os meus amigos. Isso é um sinal que a vida me deu,  de ver com meus próprios olhos tudo aquilo que deixei de apreciar.

Como os meus amigos que ignorei nas mensagens por estar ocupada ou pelo simples fato de ter me afastado de pessoas que queriam me ver bem. Da minha família reunida no café da manhã, que muitas vezes que deixei de estar lá compartilhando todo aquele amor de família. E aquela garotinha era feliz por estar segurando um balão bobo, no entanto aquilo a fazia feliz. Porque a felicidade está nas coisas mais simples e não nas coisas enfeitadas demais. Quando estava sozinha na praça percebi que desperdicei oportunidades na vida amorosa, por medo de expor o meu amor pra quem eu amo. A vida também me mostrou na escola que as pessoas sofrem " Bullying" por não serem iguais e eu já sofri tudo isso, tanto que tive baixa auto estima. Não devia ter dado importância para as outras pessoas que me julgaram, porque somos perfeitos do jeito que somos. Não importa se é negro, branco, pardo, alto, baixo, forte, magro, gordo, vamos morrer algum dia e nossos corpos vão virar caveiras, caveiras são iguais. Ah e a questão do meu relógio, o tempo " Para" para os mortos, mas pra quem está vivo o tempo passa tão depressa como uma montanha russa.

A vida passada me mostrou que devemos parar de reclamar um pouco das coisas e dar valor as simples coisas essenciais da vida como a família, amigos, amor, auto - estima , paz, saúde, igualdade e abraçar a felicidade enquanto ainda estamos vivos. Porque depois pode ser tarde demais, a vida infelizmente é uma só.


Texto escrito por mim!
Natalia Almeida

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Beijos

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10 comentários

  1. Maravilhoso texto, amei! Dei uma viajada aqui kk

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  2. Nada a reclamar e muito a agradecer, construímos tudo com pequenas peças, as vezes é necessário quebrar um pedaço, pintar, jogar uma nova massa, mais como em casa, sempre tem algo pra arrumar não é?

    Beijinhos
    www.meninacaprichosa.com

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  3. Que conto mais lindo!! Super suave, me prendeu até a última palavra!
    Beijos ❤
    Jardim de Palavras

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  4. Gostei muito :) Post muito bem construído, Beijinhos!

    http://10metrosdouniverso.blogspot.pt/

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  5. Texto lindo!!!!! E realmente, ou a gente dar valor agora ou o amanhã pode nem chegar!!!

    Bjinhos,
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    1. Obrigada, que bom que gostou <3 Exatamente isso, dar valor agora antes que chega tarde.
      Beijos

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